quinta-feira, 17 de julho de 2014

A cerejeira

   

 Ao contrário do que muitos pensam, a cerejeira não é uma espécie de árvore e sim um conjunto de espécies vindas da Ásia, algumas sendo frutíferas (cereja) e outras fornecendo madeira nobre (madeira marrom-avermelhada usada para confecção de móveis finos e instrumentos musicais) ou ainda servindo para ornamentação. Existem espécies diferentes das que estamos acostumadas a ver, como as brasileiras abaixo

      
Amburana , Jatobá (Hymenaea courbaril) e cereja-do-Rio-Grande (Eugenia involucrata).

As famosas cerejeiras japonesas (cerejeiras ornamentais, prunus serrulata) são largamente utilizadas para decoração. Além disso, a flor de cerejeira é a flor nacional do Japão (onde são conhecidas mais de 300 variedades do tipo) e símbolo dos samurais, uma vez que a flor dessa árvore morre logo, representando a efemeridade da vida e necessidade de aproveitar intensamente o hoje sem medo (lema dos samurais)- correspondente oriental para o carpe diem. Conhecida também como sakura, a flor inspira o “Hanami”, celebrações para apreciação das cerejeiras no período de floração. Quando essas celebrações acontecem a noite, recebem o nome de “yozakura”, sendo ornamentadas com lanternas de papel.

Essas flores também passam por determinado processo e viram chá, sendo servido para os noivos na cerimônia de casamento como forma de lhes assegurar a felicidade.
                         

A prunus serrulata produz poucos frutos; as cerejeiras que originam a cereja que estamos acostumados a consumir precisam de aproximadamente 1000 horas de frio para que sua semente quebre a dormência e consiga se desenvolver, desse modo, ainda não são produzidas pra comercialização no Brasil (sendo importadas principalmente do Chile e Estados Unidos). Existem outras espécies que exigem menos horas de frio, no entanto, não são tão palatáveis. Existe o boato de que a cereja em calda seria feita de chuchu, o que não é totalmente mentira: como a fruta é importada, se torna muito cara e portanto alguns meios de comércio como confeitarias, padarias preferem usar o chuchu, mas, ainda assim, nos supermercados encontramos a cereja em calda vinda da fruta.1

Em 1908, os imigrantes japoneses introduziram variedades de cerejeiras no Brasil com o objetivo de trazer suas tradições recriando o lar. O estado de São Paulo e cidades do sul aceitaram bem as árvores e hoje existem também celebrações nas áreas.

Os tipos de cerejas que consumimos são as cerejas ácidas e doces, a primeira vinda da prunus cerasus (sendo usadas em conservas, compotas e bebidas como a ginginha- licor muito popular em Portugal, especialmente em Londres) e a segunda vinda da prunus avium (sendo consumida ao natural ou em calda).



Referências Bibliográficas




Lembro-me de que certa noite . eu teria uns quatorze anos, quando muito . encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam carneado.. (...) Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode agüentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...)Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto..
VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.
Porto Alegre: Editora Globo, 1978.