Frida Khalo: Acidente, Paixão, Perda, Arte e Liberdade
Muito já ouvi falar sobre Frida Khalo, mas, um dia, parei
para pensar e conclui que não sei quem é essa mulher e porque foi tão
importante. Então, aqui vai:
Seu nome era Magdalena Carmen
Frida Khalo, mexicana, nascida em 6 de Julho de 1907. Fazia faculdade de
medicina, aos dezoito anos, quando sofreu um acidente dentro do ônibus em que
estava (um ferro transpassa seu abdome, o que a faria passar por 35 cirurgias
deixando sequelas); a tragédia lhe perseguiria por toda a vida condenando seu
estado de saúde até sua morte, aos 47 anos, que não se sabe se foi natural por
embolia pulmonar ou suicídio.
A grande artista tem como marca
registrada seu grande patriotismo trazendo sempre para a obra e sua vida
regionalismos (venerava a cultura e tradições mexicanas), se considerava filha
da Revolução Mexicana *** (dizendo ter nascido em 1910, pregava a liberdade) e
era também socialista. Possuía um estilo único onde combinava muita cor e
acessórios, fazendo da roupa sua arte e também uma forma de esconder seus
problemas de saúde (como a perna manca vinda da poliomielite que teve quando
pequena) e até mesmo “compensá-los” (criando um estilo só seu, distraindo sua
própria atenção além da alheia). Além disso, também o fazia para mais tarde
agradar o marido, Diego Rivera, de ideais patriotas assim como ela; se vestia
com adereços indianos típicos do México e roupa Tehuana (uma das mais famosas
roupas típicas mexicanas).
Roupa Tehuana
Abortou naturalmente por mais de
uma vez devido ao seu estado delicado de saúde e esses episódios só a faziam
mais triste; alternava momentos de profunda motivação com momentos de profunda tristeza: como quando sem mais
poder andar, a ela lhe é atribuída a frase “Pies para que lós quiero, si tengo
alas para voar” e como quando afirma em sua autobiografia em relação ao
acidente "E a sensação nunca mais me deixou, de que meu corpo carrega
em si todas as chagas do mundo".
O curioso é que ao mesmo tempo em que o acidente no ônibus é sua tragédia, é
também o que impulsiona Frida no campo da pintura; logo depois do ocorrido,
quando ainda de cama, sua mãe lhe compra um quadro para que pintasse e começam
então a surgir os famosos autorretratos. O ícone se “justificaria”: “Pinto a mim mesma porque sou sozinha e porque sou o
assunto que conheço melhor”.
Quando
Frida procura Diego Rivera em busca da avaliação dos seus quadros, eles se
apaixonam e se casam. Lança-se no mundo da arte em uma exposição nos EUA e
sempre frustrada por não conseguir ter filhos, seu casamento fica abalado e
Rivera começa a trai-la com sua irmã mais nova Cristina.
Em 1939,
tem sua primeira exposição individual nos EUA e algum tempo depois expõe em
Paris e é a primeira pintora mexicana a ter um quadro exposto no Museu do
Louvre. Muda-se com Diego para a ‘Casa Azul’, hoje um museu em sua homenagem.
Frida ainda sofre com problemas de saúde, tendo que fazer seis cirurgias no
período e usar um colete de ferro no tronco, além da cadeira de rodas. Em
seguida, tem sua perna amputada e apesar de todo o caos, participa de um
movimento contra a intervenção dos EUA na Guatemala em 1954.
Casa Azul, Cidade do México
Nesse
mesmo ano é encontrada morta no dia 13 de Julho e suas últimas palavras em seu
diário são “Espero a partida com alegria... e espero nunca mais voltar... Frida". Seu diário que seria publicado em 1995 e sua autobiografia em 1953.
É também
um ícone feminista, dona de uma vida entremeada de dificuldades, soube
dribá-los como ninguém e se tornar pintora em um mundo baseado no homem, além
de tudo, vinda do segundo mundo. Sua história se torna interessante pela força
que traduz, uma mulher de ideais tão simples e ao mesmo tempo fundamentais com
uma motivação de dar inveja, dona de princípios morais que mesmo hoje em dia
estão escassos, quem poderá dizer sobre 1950, onde a vida era baseada em
tradição e com certeza menos livre.
Quadro
“Alguns Golpes” de Frida, que traduz como se sentia diante da infidelidade do
marido
Vale
observar que Frida é ao mesmo tempo símbolo feminista e sofria muito pela
infidelidade de Diego Rivera, se contentando com as migalhas do amor que ele
dava a ela. O casamento não a prendia por machismo, apenas por amar demais
alguém que a amava da mesma forma, mas que não conseguia retribuir a altura. A
dependência emocional que apresenta de Diego é atemporal e pode ser encontrada
em todos os tempos do homem independente de uma sociedade machista ou não,
assim como poderia ser apresentado por um homem em relação a uma mulher.
A artista possui uma obra marcada pela dor,
uma vez que a pintura surgiu em sua vida como válvula de escape para seus
problemas em relação ao acidente e continuou sendo assim por toda sua vida. É
uma coleção de quadros fortes marcados por sentimento e cor.
Khalo é
considerada surrealista, apesar de não ter tido contato com o movimento europeu
em seu início e sobre isso disse “Pensavam que eu era uma
surrealista, mas eu não era. Nunca pintei sonhos. Pintava a minha própria
realidade.”
Os casos de Frida
Diante da
infidelidade de Diego Rivera, a grande pintora também se envolveu em diversos
casos amorosos, como o seu mais famoso : Léon Trotsky. O marxista permaneceu na
casa de Diego e Frida em sua fuga de Stálin. O marido a incentivava a manter
relações com mulheres, mas se enfurecia se descobrisse envolvimento com outros
homens.
Porque um ícone feminista?
Era
bissexual assumida (algo difícil mesmo hoje em dia) e além de adentrar o mundo
das artes antes dominado pelos homens com força e muito talento, Frida expunha
os sentimentos, expunha seu lado pessoal em suas obras, mostrando ao mundo as
peculiaridades das emoções femininas (quebrando a estética com que a mulher era
retratada), se colocando como mulher à altura da arte a ser retratada em
detalhes, dando importância a um gênero antes oprimido, capaz somente de
cumprir suas obrigações para a casa e a família. Não obstante, ainda se revela
surrealista, movimento que causou grande impacto nas camadas mais conservadoras.
Sua obra
não pode ser considerada feminista, porque ela pintava sobre sua própria
realidade, mas como tratava a mulher de forma diferenciada da que a sociedade
gostaria, é um prelúdio ao feminismo, movimento que só ganharia forma nos anos
60,70. A pintora mexicana era ousada tratando sua sexualidade sem tabus
assumindo sua bissexualidade num universo extremamente excludente em relação a
gays e mulheres. Ademais, quando separada do marido, se permitia a uma vida
livre de pudores se envolvendo em diversos casos amorosos.
Talvez a
pintora não tenha tido a intenção de abordar o feminismo, exatamente porque
lida com suas liberdades femininas que ela mesma cria com muita naturalidade,
como se seu modo de levar a vida já fosse o esperado e não houvesse normas a
serem quebradas, como um revolucionário que não declara a revolução. Uma feminista de nascença, foi muito ativa também
politicamente.
“Frida
é Frida e eu me calo!”1
Edla Eggert
A revolução mexicana ***
Movimento que procurou acabar com
o Porfiriato - ditadura de Porfírio Diaz, baseada no ingresso de capital
estrangeiro com pouco desenvolvimento industrial e forte concentração fundiária
com repressão popular, além de ser uma democracia mascarada, onde Porfírio permaneceu
no poder a partir de corrupção por 35 anos.
A revolução teve duas fases, uma
mais ligada ao proletariado e outra posterior mais popular. As camadas
populares no fim foram reprimidas e com a morte de seus líderes, a onda
revolucionária perdeu a força, porém, houve êxito na conquista de alguns
direitos, como os trabalhistas, individuais, a propriedade etc.
Referências
Bibliográficas